Abordagem para o ensino da matemática de forma participativa, colaborativa e lúdica para estimular o aprendizado, auto-estima e gosto pela matemática. Projeto apoiado pelo Instituto TIM.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Por que?

No círculo da matemática estamos sempre perguntando. Perguntamos aos alunos como começar, para onde ir, o que fazer. Eles decidem como as coisas caminham durante a aula. Sim, os alunos têm grandes poderes. Mas como disse Ben Parker, o tio do Homem Aranha, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. E as responsabilidades ficam logo claras, eu quero saber o porquê. Não de tudo, claro. Só do que importa. Que no caso é o raciocínio que o educando fez.

A pergunta pode ser simples, a resposta pode estar no quadro, como na reta dos números, a criança responde rápido, como se eu estivesse perguntando algo óbvio. Mas assim que a resposta vem, eu pergunto: "- Por que?" . Até outro dia achava que havia dois motivos:
O primeiro porque quero separar os chutes pelo prazer de chutar (que são bem vindos) e os chutes baseados em algum tipo de raciocínio mais elaborado. Segundo porque quero que as crianças  cooperem umas com as outras. Que compartilhem o que pensaram, para que possam chegar a alguma conclusão juntas.

Descobri essa semana que passou um terceiro motivo: as crianças têm que aprender a conviver bem com os questionamentos. Além de elas aprenderem a questionar e a terem sua curiosidade aguçada, quero que elas convivam bem com a possibilidade, e o fato, de que os outros vão questiona-las.

Perguntar não deveria ofender, mas tenho alunos que ficam bravíssimos quando lhes faço uma pergunta. Outro dia um estourou comigo: "- Por que? Por que? Por que? Você está sempre perguntando 'Por que?'. Eu te dei a resposta certa e você me perguntou o porquê. Eu estava certo." gritava, bem nervoso. 

Nessa hora a ficha caiu. Eles não gostam de ser questionados. Não estão familiarizados com o debate, com a necessidade de explanação do ponto de vista, e muito menos com questionamentos. O "Por que?" é uma afronta, quando, na verdade, a resposta certa merece um prêmio. Afinal, além de responder, cor-re-ta-men-te, diga-se de passagem, ter que explicar o caminho do raciocínio é uma penalização.

Existem vários motivos pelos quais os alunos enxergam a atenção que vem junto ao "Por que?" como uma penalização, talvez um deles seja a falta de confiança no raciocínio. Mas isso reflete algo que vai muito além da confiança e autoestima que a criança possui nela mesma, ou da dinâmica em sala de aula. O comportamento dos meus alunos frente às minhas perguntas é a expressão da nossa sociedade frente ao debate. Na verdade, um reflexo da falta de debate. Sem o hábito do debate ninguém está acostumado a tantas inquisições e qualquer pergunta é uma afronta pessoal que deve ser respondida rapidamente e de forma agressiva, para que ninguém nunca mais se atreva a questionar nenhuma outra posição. Nunca. Problema sério quando você acredita que o diálogo é o caminho para a construção de uma sociedade mais justa. E quando você sabe que você está lidando com gente que tem muito o que falar.

As crianças tem que aprender a conviver melhor com os questionamentos. Pois, só assim, teremos indivíduos familiarizados com discordâncias e dúvidas, e que saberão diferenciar ataques pessoais à ataques a argumentos. Por causa disso, a cada aula tentarei fazer mais e mais perguntas, para que eles se acostumem com a necessidade de reflexão e revisão de posição, seja ela na aula de matemática, seja na vida.

Um comentário:

  1. É isso mesmo, Bárbara! Acontece muito quando questionamos, mesmo as que respondem corretamente, delas se sentirem acuadas, como se fosse algo pessoal mesmo. Muito bom destacar isso, porque nosso papel como professores é de educá-los para a vida mesmo, da forma mais ampla possível!

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