Abordagem para o ensino da matemática de forma participativa, colaborativa e lúdica para estimular o aprendizado, auto-estima e gosto pela matemática. Projeto apoiado pelo Instituto TIM.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Aprendendo o que já se sabe.

Na semana passada comecei as aulas em três turminhas de uma unidade da Escola Bosque, localizada em uma outra ilha, diferente da qual trabalho diariamente. Como estava sozinho, pois não havia nesse dia professor de educação física e de artes, com os quais dividiria as turminhas, peguei os 24 alunos e tentei a atividade da bailarina.
Comecei fazendo a linha horizontal onde quem pulava de ponto em ponto era o Professor Tadeu, que começou a pular sempre para o lado direito, de várias formas diferentes, mas nunca voltava para a esquerda, ultrapassando o zero. Quando questionei sobre o que aconteceria quando o Professor Tadeu (o boneco) desse um salto passando do zero, para o lado esquerdo da reta, logo um aluno pulou e imediatamente disse: "O Sr. vai cair no nada Professor!", então voltei para o ponto de onde partiu o salto e novamente questionei onde ele cairia se desse um salto ainda maior para o lado esquerdo, ultrapassando o zero. Logo outro aluno respondeu, talvez copiando o primeiro: "Ele vai cair no nada Professor". Com essas duas sugestões propus a todos que observando a reta e os dois pontos antes do zero, aos quais chamaram de "nada", pensassem se existiriam dois "nadas" em pontos diferentes da reta. Todos concordaram que "nada" é só um e que não sabiam explicar como chamar os pontos onde o Professor Tadeu havia parado à esquerda do zero.
Com a dúvida instaurada, adotei a ideia apresentada no II Workshop do Círculo da Matemática do Brasil (me desculpem por não creditar essa ideia - puro esquecimento mesmo) e desenhei uma escada da borda inferior do quadro até a borda superior, colocando o zero no meio da escada. Novamente, comecei saltando para cima sem problemas e de várias formas que todos participaram com chutes e sugestões registradas no quadro, até o momento em que uma aluna questionou: "Professor porque o zero está no meio da escada e não lá embaixo?"
Em vez de mudar os números de lugar, perguntei: "E se descermos a escada até o primeiro degrau não numerado que está antes do zero?". O aluno que havia cogitado o "nada" na reta horizontal disse: "Professor agora eu não sei mais o que falar, porque se eu disser que vai para o nada, o Sr. vai descer ainda mais e perguntar se existem dois "nadas" diferentes, e agora?"
Como expus no Workshop, sempre procuro trabalhar o significado das palavras/frases que estão sendo ditas nos exercícios, atividades e em tudo o que é falado. Nesse momento, perguntei a todas as crianças se eles sabiam o que significava a palavra "primeiro", vários disseram: "é o que vem antes", "o que chega na frente", "é o número 1", em seguida perguntei o que seria "o primeiro degrau subindo a escada a partir do zero" e "o primeiro degrau descendo a escada a partir do zero", a sala ficou em silêncio e em seguida podiam se ouvir vários "hhhuuummm's" pensativos... O aluno que havia falado do "nada" disse: "Professor tem o 1 subindo e o 1 descendo". E vários começaram: "É mesmo, se o Sr. pular três pra cima, vai parar no 3 subindo, ou se pular três pra baixo, vai parar no 3 descendo".
Não me contive num sorriso que todos perceberam que haviam aprendido uma coisa nova que, de certa forma, já sabiam... 
O tempo da aula acabou, peguei o barco para voltar para a minha unidade e enquanto ouvia o barulho do motor e sentia a brisa do rio e o sol no rosto pensava em mil maneiras de perguntar para que eles descubram os números negativos. A aula seguinte foi show... aguardem.

Um comentário:

  1. Muito legal, Tadeu. É incrível estes momentos em que os alunos descobrem os números negativos. Me sinto muito realizada e feliz quando isso acontece. Parabéns pela aula!!

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