Abordagem para o ensino da matemática de forma participativa, colaborativa e lúdica para estimular o aprendizado, auto-estima e gosto pela matemática. Projeto apoiado pelo Instituto TIM.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Aos 45 do segundo tempo.

Trabalho em uma escola que, me atrevo a dizer, provavelmente é uma das mais complicadas do Círculo. Essa escola, inclusive já foi objeto de postagens recentes de outros colegas no blog.

Na última semana, véspera do feriado, minha primeira aula estava indo bem até que foi interrompida por uma professora, pois no meio do meu horário com a turma havia sido agendado uma outra atividade complementar e tinham esquecido de nos avisar. Foi triste e frustrante, pois a aula caminhava bem.

Já com a turma seguinte, a intenção era introduzir o 'Relógio' e como gancho tentei usar a ideia de contarmos quanto tempo tinha em uma música que um dos meninos estava cantando. Em um primeiro momento alguns até me deram atenção ao responderem quantos minutos achavam que a música tinha. O resto do tempo quase todo passei tentando fazê-los pararem com a correria e gritaria para que conseguisse um mínimo de atenção. Quando alguns paravam, a bagunça dos outros era tal que não conseguia falar com os que estavam quietos. 

Por alguns segundos me coloquei no lugar do professor, que diferentemente de mim, fica com eles por 4 ou 5 horas por dia, 5 dias da semana. E entendo como alguns simplesmente surtam, se tornam os "ditadores" ou ao chegam ponto de total passividade. Tive, então, que pensar em uma estratégia, acabei apelando para o emocional deles. Sentei e fiz uma cara de chateado (no fundo, realmente estava frustado com a situação)e quando me perguntavam se eu não queria mais passar nada eu dizia que eles pareciam não estar gostando da minha aula, pois não colaboravam. 

Propus, então, um votação se eles queriam ou não que eu desse as aulas pra eles. Passei uma folha e falei que podiam votar sem colocar seus nomes. Depois de um processo demorado, já que eles não se acalmaram muito, todos votaram a favor de eu continuar a aula. A partir daí perguntei o que eles gostariam que uma aula tivesse para que fosse legal, fizemos uma lista e dentre as opções citadas apareceu, inclusive, "fazer continha". 

Após a listagem, disse pra eles que poderíamos tentar incluir os itens que eles disseram, mas que para isso seria necessária a colaboração de todos e precisaríamos fazer alguns acordos sobre a relação na sala de aula, anotei no quadro, itens tais como: sem gritos, ouvir quando o colega falar, chamar todos pelo nome (já que eles tem o mal costume e dar apelidos pejorativos uns nos outros), não fazer bagunça (destacando que isso não significa que não podemos brincar e nos divertir, ou seja bagunça e brincadeira são coisas diferentes). Todos concordaram em manter o acordo, agora é ver como será essa semana.

Na última turma do dia, que é composta apenas por meninas, tava um pouco complicado a concorrência com as conversas paralelas, mas a aula foi aos trancos e barracos caminhando, fizemos a reta com uma personagem do desenho 'Monster High', todas elas riram do meu desenho, mas consegui manter minimamente a atenção delas. Mas algumas apresentavam dificuldades em realmente saber a ordem de grandeza dos números, e em alguns casos, até o ordenamento deles. Não consegui fazer os saltos, então, fui tentando ver se elas conseguiam completar a reta com os números que faltavam,enquanto uma delas conseguiu listar vários outras ainda estavam confusas sobre o que realmente estávamos fazendo. 

E quando vi que meu tempo estava por terminar lancei uma pergunta para todas me responderem: "Será que a distância (ou tamanho da renta, não me recordo exatamente o termo) entre o 90 e o 100 é a mesma que entre o 20 e 30?". A resposta rápida e geral foi "não por que 90 e 100 são bem maiores". Repliquei perguntando "Será? Quanto números tem entre cada intervalo (não foi exatamente essa palavra)?". Meu tempo estava realmente no fim, e pedi pra que pensassem e me respondessem na próxima aula, nesse momento, algumas já se dispersaram arrumando seu material e enquanto isso vi uma delas contando nos dedos com uma cara espantada e me disse: "fessor, é a mesma coisa, por que tem 10 números entre o 20 e 30 e 10 números entre o 90 e 100".

Alguns instantes depois, o sinal tocou como se fosse o apito do juiz decretando o fim do jogo. Fui embora com a sensação de que tinha feito aquele gol que aos 45 do segundo tempo garante ao menos o empate e evita voltar pra casa com o gosto amargo de um dia que tinha tudo para ser mais uma 'derrota'. 

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