Por algum tempo dei aula apenas na Victor Issler, uma escola em um bairro muito carente aqui em Porto Alegre. Tive alguns problemas referentes à indisciplina, mas acredito que isso é esperado em todas as turmas. Mais importante é que as crianças tem muita dificuldade na formalização dos números e passam boa parte do ano letivo sem entender direito as operações básicas. Nesse cenário, o Círculo da Matemática encaixou-se perfeitamente, em algumas turmas mais em outras menos, mas todas as crianças abracaram o método com muita empolgação a cada vez que participaram da aula. Viam problemas difíceis de matemática se resolverem perante os próprios olhos e pediam mais, e assim as aulas fluíam muito bem; vi a autoestima de algumas crianças brilhar, crianças que normalmente são quietas e reservadas fazendo de tudo para participar.
Num outro cenário, em uma outra escola num bairro de classe média me deparei com a situação oposta: as crianças já "sabiam" tudo. Pontos explosivos e bailarinas não aguçavam sua mente e logo eu via bocejos aqui e ali. Não tardou, no entanto, pra eu conseguir usar isso em favor do método. Passei as primeiras aulas revisando as 4 operações com eles e fazendo máquinas de funções primeiramente bem simples, mas depois relativamente complexas. Isso bastou pra elas se empolgarem e pedirem mais a cada aula. Em uma turma uma menina disse que não queria ir ao recreio, preferia continuar com a aula! Acho que a lição é que não há criança que não se encante com o método, e não há criança que desgoste da matemática ou a encare como um bicho papão depois de participar de algumas aulas. Chesterton dizia que se você abrir uma porta para uma crianca de 7 anos e disser que há um dragão atrás dela, ela irá se impressionar, mas que para uma crianca de 3 anos basta abrir a porta. Ou seja: algumas crianças serão atraídas pela informalidade e pelo aspecto lúdico do Círculo, outras pela realidade dura e absoluta de se trabalhar com números e encontrar sempre a resposta correta.
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