Eu tive um dia feliz na escola
que é um terror. Bem, na verdade não foi um dia inteiro, mas a minha felicidade
foi tanta que valeu por um. Isto porque, das três turmas que tive, consegui dar
aula para uma. Parece trágico, eu sei. Mas quando se trata de uma escola como
aquela, conseguir a atenção de um aluno que seja já é uma grande vitória.
Ajudá-lo a construir algum conhecimento é quase como ganhar a guerra. Por mais
triste que seja, o sentimento que tenho quando saio de casa para ir para aquela
escola é próximo do conformismo. A única coisa que eu espero é que ninguém se
machuque até o final do dia. É claro que ainda me esforço mais lá do que em
qualquer outro lugar, apesar de nenhum esforço parecer suficiente. É muito
frustrante. Nesta turma em particular, a última aula que eu dei havia sido um
desastre. Um dos alunos brigava com todos os outros, os ameaçando com os punhos
fechados, perto de seus rostos. Enquanto isso, as outras crianças corriam e
gritavam pela sala, batiam uns nos outros. Um horror. Esta semana, porém, os
alunos, além de se comportarem, prestaram atenção e participaram durante toda a
aula. Foi incrível! O menino que brigava com os outros agora chamava os
amiguinhos para a brincadeira. Fiz com eles a forca com a reta dos números,
ideia do Raphael daqui de Porto Alegre, e cheguei a ouvir um aluno dizer para o
outro “isso é matemática? É muito legal!”. Chegamos juntos aos números
negativos e fizemos a bailarina, que se chamava Pedro (sim, eles inventaram uma
bailarina, de tutu e tudo, cujo nome era Pedro) andar na reta para frente e
para trás, conforme eles erravam ou acertavam as letras que compunham a palavra
que estavam tentando descobrir. Voltei para casa nesse dia um pouco menos
desiludida que nos outros, pensando que talvez ainda haja alguma esperança,
ainda muito pequena, do Círculo da Matemática fazer alguma diferença na vida
daquelas crianças.
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