Abordagem para o ensino da matemática de forma participativa, colaborativa e lúdica para estimular o aprendizado, auto-estima e gosto pela matemática. Projeto apoiado pelo Instituto TIM.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Quando os olhos não podem ver...

Tenho um aluno cego em uma de minhas turmas de 1ºano do Círculo. Muitas questões me  preocuparam (e ainda me preocupam) assim que soube que teria um aluno especial em minha turma. Como interagir com ele? Como fazer com que ele acompanhe as aulas e possa participar efetivamente das atividades propostas? Como produzir um material adaptado que possibilite isso? Já havia lido algum material a respeito de deficiência visual e intelectual, surdez e inclusão escolar, devido a minha participação em um projeto, numa escola pública, com deficientes intelectuais. Mas apesar disso, nunca havia dado aula para cegos. 
Na primeira aula do Círculo, com essa turma, trabalhei figuras geométricas. Para o meu aluno cego, preparei figuras geométricas em papelão, coberto com papel camurça, já que o contato do cego com o mundo à sua volta se dá pelo som e pelo tato e, explorar as sensações que cada material proporciona é muito importante para o ensino destes alunos. Ele conseguiu identificar, facilmente, as figuras em papelão, mas teve dificuldades em perceber as formas em alto-relevo numa folha sulfite (feitas com tinta relevo), pois as figuras geométricas estavam muito juntas e isto atrapalhou sua identificação. Na aula após o questionário, levei um material adaptado para trabalhar a reta, mas ele não ficou muito interessado e resolvi não insistir. Na aula seguinte, tentei fazer com que ele acompanhasse o que estava acontecendo na reta dando informações, oralmente. Consegui que ele realizasse saltos de 2 passos em 2 passos e de 3 passos em 3 passos. 
Nesta semana, preparei o material abaixo, uma versão mais bem construída e maior daquela que havia levado antes. Usei barbante, uma caixa de papelão, tinta relevo e um pedaço de canudo, o qual pode se mover ao longo do barbante, representando a bailarina ou outro personagem. Expliquei para o aluno, tateando o material com ele, que era uma reta com números marcados, que se indicava no zero e terminava no vinte, que o barbante representava a reta e o canudo a bailarina (Esquelita, no nosso caso). 

Reta Numérica 1
Reta Numérica 2
Só indiquei, em Braille e com tinta relevo, os números de 0 até 9, pois ainda não sei como representar os demais números, mas pretendo pesquisar isso para a próxima aula. Após fazer um reconhecimento tátil do material, ele conseguiu realizar saltos de 2 em 2, de 3 em 3 e de 4 em 4. Na próxima aula, trabalharei operações na reta e acredito que ele será capaz de compreender a aula, com a ajuda deste material. Não é o ideal ainda, mas pode ser um começo... Agradeço qualquer sugestão para adaptação das atividades do Círculo.

Ana Paula Irineu,
São Paulo.

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