Abordagem para o ensino da matemática de forma participativa, colaborativa e lúdica para estimular o aprendizado, auto-estima e gosto pela matemática. Projeto apoiado pelo Instituto TIM.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

"Ao infinito...e além"

Cheguei há pouco de umas das escolas em que algumas turmas me fazem pensar em desistir não só do Círculo da Matemática, mas da profissão docente, quase todas as semanas. Crianças que não conseguem se concentrar em algo por mais de alguns segundos, que gritam em vez de falar, que ofendem-se mutuamente o tempo inteiro, que dizem que é chato ainda antes de você terminar a explicação...enfim, poderia seguir com essa descrição se não pensasse que vocês sabem exatamente do que estou falando. Poderia também fazer um post só sobre os motivos socioeconômicos, culturais, familiares e escolares os quais acredito que levam essas  crianças a apresentar esses comportamentos.

Porém, hoje estou aqui para contar como foi emocionante escutar o primeiro "Uaaau, sora!" e ver os primeiros rostinhos encantados em uma dessas turmas! O responsável por esse momento foi ele: nosso querido infinito! Pensar que as coisas podem não ter fim é um assunto que notoriamente intriga e envolve o ser humano, adultos e crianças, há gerações. Não foi diferente na aula de hoje.

O mais legal foi que o assunto surgiu totalmente deles. Estávamos fazendo um carro pular de três em três em uma linha de números, quando um aluno pediu para que o carro pulasse uma quantidade que não caberia na linha que já estava no quadro. Eles disseram para eu continuar fazendo os números em uma linha embaixo. Um aluno, preocupado, falou o seguinte: "Sora, quando você chegar no 100, você vai começar do 0 de novo né?!". Perguntei para os demais alunos o que eles achavam disso e eles disseram que não concordavam porque depois do 100, vem o 101, 0 102 e assim por diante. A conclusão da conversa foi que os números não tem fim assim como as pessoas, o universo e algumas outras coisas. Aqui vão algumas das brilhantes explicações que os levaram a chegar a essas conclusões:

"Sora, se você tem um filho que tem outro filho que tem outro filho...não vai acabar nunca! Eu acho que o mundo nunca vai acabar!"

"Se a gente for continuando com essa linha de números vamos sair da escola e depois do mundo e chegamos no universo! Uaaau, sora!"

"Sora, se você quisesse contar até o último número, você ficaria contando até ser velhinha e morrer e mesmo assim não iria conseguir!"

E foi nesse clima de entusiasmo que eu fiz a pergunta com a qual terminei a aula: "Agora sabemos que o maior número não existe, mas será que existe o menor?". Uma aluna olhou intrigada para o grande espaço que eu deixei antes do 0 e se perguntou baixinho: "Pois é, mas o que será que tem antes do 0?". Assim, pude terminar sorrindo (depois da sexta aula com essa turma) uma manhã difícil. Recompensador.

Daniela Fumegalli




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