Tenho
um aluno cego em uma de minhas turmas de 1ºano do Círculo. Muitas questões me
preocuparam (e ainda me preocupam) assim que soube que teria um aluno especial
em minha turma. Como interagir com ele? Como fazer com que ele acompanhe as
aulas e possa participar efetivamente das atividades propostas? Como produzir
um material adaptado que possibilite isso? Já havia lido algum material a
respeito de deficiência visual e intelectual, surdez e inclusão escolar, devido
a minha participação em um projeto, numa escola pública, com deficientes
intelectuais. Mas apesar disso, nunca havia dado aula para cegos.
Na
primeira aula do Círculo, com essa turma, trabalhei figuras geométricas. Para o
meu aluno cego, preparei figuras geométricas em papelão, coberto com papel
camurça, já que o contato do cego com o mundo à sua volta se dá pelo som e pelo
tato e, explorar as sensações que cada material proporciona é muito importante
para o ensino destes alunos. Ele conseguiu identificar, facilmente, as figuras
em papelão, mas teve dificuldades em perceber as formas em alto-relevo numa
folha sulfite (feitas com tinta relevo), pois as figuras geométricas estavam
muito juntas e isto atrapalhou sua identificação. Na aula após o questionário,
levei um material adaptado para trabalhar a reta, mas ele não ficou muito
interessado e resolvi não insistir. Na aula seguinte, tentei fazer com que ele
acompanhasse o que estava acontecendo na reta dando informações, oralmente.
Consegui que ele realizasse saltos de 2 passos em 2 passos e de 3 passos em 3
passos.
Nesta
semana, preparei o material abaixo, uma versão mais bem construída e maior
daquela que havia levado antes. Usei barbante, uma caixa de papelão, tinta
relevo e um pedaço de canudo, o qual pode se mover ao longo do barbante,
representando a bailarina ou outro personagem. Expliquei para o aluno, tateando
o material com ele, que era uma reta com números marcados, que se indicava no
zero e terminava no vinte, que o barbante representava a reta e o canudo a
bailarina (Esquelita, no nosso caso).
Só
indiquei, em Braille e com tinta relevo, os números de 0 até 9, pois ainda não
sei como representar os demais números, mas pretendo pesquisar isso para a
próxima aula. Após fazer um reconhecimento tátil do material, ele conseguiu
realizar saltos de 2 em 2, de 3 em 3 e de 4 em 4. Na próxima aula, trabalharei
operações na reta e acredito que ele será capaz de compreender a aula, com a
ajuda deste material. Não é o ideal ainda, mas pode ser um começo... Agradeço qualquer
sugestão para adaptação das atividades do Círculo.
Ana
Paula Irineu,
São
Paulo.
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