Abordagem para o ensino da matemática de forma participativa, colaborativa e lúdica para estimular o aprendizado, auto-estima e gosto pela matemática. Projeto apoiado pelo Instituto TIM.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Cortando Frutas

Quero compartilhar com vocês uma experiência que vivi com uma de minhas turminhas do Círculo essa semana. Acho que grande parte de nós, educadores do Círculo, tem turminhas onde o trabalho é um pouco mais difícil, onde a competitividade é maior entre os alunos e o ambiente é mais hostil. Tenho uma turma assim. Durante os últimos meses venho trabalhando com essa turminha de 3º ano, mas muitas vezes voltava pra casa desanimada, o que fazer para diminuir a hostilidade? Tentei de várias formas, com atividades, com conversas, incentivando a colaboração e solidariedade, mas "parecia" não haver resultados. 
Essa semana fui me encontrar com eles, sem imaginar o que me aguardava! Como queria introduzir a ideia de frações, comecei pedindo que me ajudassem a cortar uma laranja gigante em pedaços iguais, logo as brigas começaram, um dizia "tem que ser assim!", outro gritava "tem que ser desse jeito". Então tive uma ideia, pedi que cada um pensasse em sua fruta favorita. Coloquei o nome de todos no quadro e abaixo dos nomes desenhei as frutas que pediram. Também pedi para que cada um cortasse sua fruta em pedaços iguais, na quantidade que quisesse. Isso os animou bastante, crianças adoram desenhar no quadro! (Aliás, gerou uma discussão bastante interessante sobre ser mais fácil cortar gerando números de pedaços pares que ímpares). Quando todos já tinham cortado suas frutas, eu coloquei meu nome no quadro e desenhei um cacho de uvas, com 11 uvas. Disse que agora cada um poderia dizer quantos pedaços da sua fruta iria querer comer. Resolvi começar: disse que iria comer 3 uvas. A turma inteira fez caretas e uma aluna perguntou "porque você só vai comer 3 uvas?", eu respondi "porque o restante quero repartir com vocês, assim sobram 8 uvas e cada um de vocês pode ganhar uma". Nesse momento a turma toda ficou em silêncio e segundos depois uma outra menina perguntou "você tem certeza que quer repartir sua fruta favorita com a gente?". Tive que rir, e logo respondi "é claro, afinal, vocês são todos meus amigos e amigos repartem as coisas". O que aconteceu depois foi realmente incrível. Todos os 8 alunos quiseram repartir suas frutas comigo e com os colegas, então escolhiam "comer" apenas o suficiente de forma a sobrar sempre 8 pedaços para repartir. Até mesmo os alunos que haviam cortado a fruta em apenas 4 pedaços, por exemplo, quiseram cortar novamente, de forma a ter o bastante para todos. A turma toda brincou, riu, e de repente, não havia mais ambiente hostil. Eu mal podia acreditar... TODOS estavam se divertindo juntos, e mais, fazendo matemática juntos! 
Ao final da aula, sentei um pouco a "mesa do professor" e fiquei pensando "o que será que eu fiz de errado durante todas as aulas anteriores?", "por que isso não aconteceu antes?"... E tentando entender, lembrei do princípio do erro da abordagem do Círculo da Matemática. "O erro é bom. É sinal que algo foi tentado". Isso também vale pra nós educadores! Tentei tantas vezes fazer com que eles participassem e colaborassem e falhei. ERREI. Mas, estava toda semana ali, tentando e tentando e tentando. Essa é a essência do Círculo: não desistir. Por isso compartilho com muita alegria minha experiência dessa semana, não desistir valeu a pena. O que vai acontecer semana que vem? Não sei, crianças sempre nos surpreendem, só sei que tenho que continuar tentando. 
Aliás, o que fiz para a aula dessa semana dar certo? Boa pergunta. Só sei que cortamos frutas juntos.

Um comentário:

  1. Samanta, que historia legal de você e ses alunos, muito obrigada por compartilhar. Além de uma maneira gentil e divertida de começar a conversa sobre frações, você deu um belo exemplo do papel civilizatório que do Círculo pode exercer.

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